Tôcomsau - dadedeti


Há sete anos vi a pequena grande bochecha se transformar na guardiã dos meu sonhos, na porteira dos meus sentimentos, na escudeira dos meus defeitos. Nasceu. A linda flor que veio a brilhar na minha vida por muito tempo. Encantou meu caminho, guiou meus passos. Tornou-se um anjo. Definiu o conceito de amizade, na mais escura indiferença. Lapidou o objeto mais difícil que encontrou e transformou-o em seu servo. Vivi, sobrevivi e agora vivo sem a presença da mais completa forma de amor que pude receber. Com exagero. Mas na medida certa de eu saber o quão importante ficou minha vida com os vestígios deixados por ela. A orquestra do coração tocou no mesmo compasso da fina e acanhada voz que saía de uma garganta guerreira. Pronta 'pra lutar. Pronta 'pra não deixar eu me perder. Conjugar-te-ei no verbo mais inefável que percebi sendo um amigo teu; sendo o amigo teu: Amar.
Quisera eu um dia não mais poder banalizar a palavra amizade e destinar a ti o que, deveras, merece. Que o Universo proteja e saiba dar o mesmo valor que a 'Nara'vilha de Deus deu a mim.

Era uma vez...

A: Boa tarde, tudo bem com você, Senhor?

Flávio: Nossa, mas Senhor? Sou muito novo para isso. Deixe de formalidade e me chame pelo nome: Flávio. Mas está tudo ótimo. Tudo de bom está acontecendo comigo.

A: Que notícia boa, caro Flávio, fico feliz por saber que as pessoas estão felizes. É uma honra sentar ao seu lado.

Flávio: Obrigado. Não sei nem o porquê da honra, mas tudo bem. Agradecido estou ao saber.

A: Pois bem, Senhor Flávio, ops, desculpe-me. Flávio. Posso lhe fazer um singelo pedido?

Flávio: Se estiver ao meu alcance. Sem dúvida nenhuma.

A: Certo. Gostaria, então, que você, pusesse a mão em seu bolso. E tire o seu importantíssimo celular para eu levá-lo.

Flávio: Meu Deus, mas para quê você quer meu celular? Ele é de suma importância, como o senhor mesmo disse.

A: Quero pegá-lo para vender futuramente. É desse jeito que vivo, caro colega: peço as coisas para os outros e vendo para outros outros.

Flávio: Mas e eu, como fico? Eu necessito tanto dos meus contatos. Agora que sou universitário, devo estar comunicando-me frequentemente com minha família e amigos.

A: Acalme-se. Eu penso muito bem nas pessoas que abordo. Sou um servo de Deus. E irei para o céu, com toda certeza. Por isso lhe darei o chip com todos os seus contatos. Eu penso tanto nas pessoas. Você deve saber como é!

Flávio: Mas se eu disser não? Você fará algo contra um outro servo de Deus?

A: Não sei, pois quando porto um objeto cortante e fácil de ser empunhado, mudo de expressão e, na maioria das vezes, mudo de atitude.

Flávio: Você está portando uma faca?

A: Se você o chama assim, sim!

Flávio: Ah, mas você devia ter falado isso há tempos. É claro que darei a você o meu celular. Para que ligar para as coisas materiais, não é verdade? Peço-te um simplório favor: Dê-me o chip. Preciso tanto deste.

A: É isso que iria fazer.

Flávio: Oh, Senhor, muito obrigado. É uma grande favor que você me faz.

A: Não por isso, Flávio. Eu também devo agradecer-te por sua generosidade. Você, indubitavelmente, irá para o céu.

Flávio: Fico feliz em saber. Mas, afinal, qual é o seu nome?

A: Nossa, que indelicadeza minha. Meu nome é Salteador, mas pode me chamar de Assaltante. Você já é meu íntimo.

Flávio: Tudo bem. Tenha uma boa Semana Santa, caro Assaltante.

A: Felicitações recíprocas, caro Flávio. Adeus.





Tudo estaria ótimo. Mas não vivemos em contos de fadas. Infelizmente eu não sou Hans Christian Andersen e não tenho um final feliz para tudo. Esse é o preço que se paga por morar no Brasil. Azar o meu.

Via sedex, por favor.


Belém, 03 de abril de 2009

Querida Inveja,

É com enorme infelicidade que venho lhe dizer sobre coisas oriundas de ti que estou a sentir. É uma sensação estranha de inaceitabilidade do que algo novo pode me fazer. O fazer inútil; o fazer não ser. E o pior de não ser, cara Inveja, é ter a sensação de não ser mais. De não ter mais. De ter o"mais" depois "não". É, 'pra quem sempre foi acostumado a ver os outros com você a meu favor (se é que me entendes), a intangível situação de subversão aconteceu. E dói. Dói saber que, hoje, vivo de ti (e não por ti, 'tá?). Esse sentimentozinho que tu és 'pra mim em grande escala, faz despertar a enorme inaptidão que tinha de pensar que pensar que ter aptidão era a única coisa de que tinha certeza. Não. E você nem pode se orgulhar por isso, porque não foi você a culpada. Fui eu. Tenho a insatisfação de dizer que fui eu. Mas se isso te deixa triste, alegro-me facilmente por saber.
Não se pode negar que nunca convivi contigo. Foi uma relação conturbada, até. Mas, eu, felizmente, tenho o dom do desapego. E isso, antes, me servia para algo. Fui o desacostumar das coisas, que fiquei surpreso com a tua volta. E tinha que ser, necessariamente, triunfal. Foi. Mas a tua presença me incomoda. Tu nunca foste, na verdade, uma das minhas melhores companhias. E é fato tu saberes que nada foste 'pra mim, assim como hoje, não és nada.
É incomensurável a vontade de te tirar de mim, de me fazer sentir o que, deveras, posso ser. Tu não me deixas, mas isso é o teu trabalho, eu sei. Tua função: destruir-nos; decepcionar-nos. Nos fazer sentir mal.
Aposto que tu nunca sentiste inveja, Inveja. Assim como o Amor não sentiu o amor. E o Ódio nunca odiou ninguém. Pois se os sentimentos usassem o seu próprio poder, se anulariam. O mesmo aconteceria se nós conseguíssemos nos enxergar. Nos anularíamos.
Você e seus amiguinhos foram feitos para nos fazer, e hoje, sou o que tu queres que eu seja. Feito de inutilidade, não da inutilidade. Gosto de sentir o peso da tua presença, 'pra eu crer, ainda mais, como é bom viver sem ti. Espero que as tuas férias estejam a acabar e que voltes a algum emprego fixo que te sirva. Não te quero como patrão em minha vida, gosto mesmo de ser um pobre assalariado da autoconfiança.


Desatenciosamente, eu.


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