Gabarito Controverso

Sentir a evasão de um sonho é a pior maneira de notar que o vestibular existe para nos martirizar. É desumano. E o medo da responsabilidade nos faz inúteis perto de um sistema seco, capaz de nos por em dúvida sobre quem, de fato, nós somos e onde queremos chegar.
A tentativa de responder aos anseios da sociedade pode se tornar um fator decisivo na escolha profissional. E o tal método de entrada na Universidade faz inversões conceituais de palavras e profissões necessárias para se adequar ao processo. Hoje, inteligência significa capacidade de decisão. Não se resume, mais, ao condicionamento da pessoa, mas a habilidade que esta tem para resolver um problema inusitado. Os professores de Ensino Médio foram impelidos, também, a dar técnicas de memorização, longe de suas reais funções: ensinar.
Exames preparatórios existem, paradoxalmente, para tirar a percepção e a agilidade do aluno. Simulados, por exemplo, são ações repetitivas e incapazes de tornar alguém hábil, sobretudo por exibir questões de vestibulares passados. Se existe algo educativo nisso, seria um medíocre condicionamento programado que na maioria das vezes não faz a tão sonhada diferença na real prova. O vestibular impede, pois, o desenvolvimento da inteligência, porque existe e exige uma exagerada quantidade de informações.
Na era da globalização, a sociedade requer a capacidade de resolução de problemas novos, o contrário do condicionamento. E para isso, é necessário disciplina total. Ou seja, esse método avaliativo desarticula o exercício mental da criatividade humana.
Talvez o grande problema a ser discutido é que o professor pode, até, ensinar o aluno para a prova, mas não o educa para vida. E nesse mundo sórdido e hipócrita no qual vivemos, ter honestidade e altruísmo é tão importante quanto um diploma.
É difícil pensar que possa existir a superação do nosso vestibular, pois o volume de dinheiro que movimenta esse mercado é enorme. Técnicas podem nos iludir ao pensar que daremos um grande salto em nossas vidas, mas estamos vulneráveis a tropeços seja para qualquer salto que dermos. Não existirá processo, de fato, que nos fará pessoas melhores. É nos vestibular da vida que aprenderemos ser o que, deveras, queremos ser.

Hã?

A nuvem estava completamente enfurecida com o geléia de framboesa que o Sílvio Santos tinha acabado de me dar. Sei lá o motivo, mas acho que a chave não se encaixava naquela maçaneta feita de leite em pó, então fiz questão de avisar à samambáia mais próxima do que tinha acontecido. Nossa, mas foi uma reação inesperada. O gafanhoto azul royal espantou-se com tal expressão:
- Ei, por que a margarina desse pote vive derretida? Ora, será que não existe bolachas de talco a serem feitas?
E por aí foi. A confusão estava exposta, e eu nem sabia o que dizer para a finado Clodovil o que acontecera. Os ornitorrincos não paravam de comer as flores que a sobrinha do tamanduá tinha acabado de colher. Eles estavam famintos depois que o espelho havia se quebrado e não restara mais nada, a não ser duas lentes de contato de um misterioso brigadeiro que fingia dormir.
Eu, até, cheguei a perguntar ao orangotango mais próximo sobre o que ele vira da tal confusão. Depois de umas três frases, comecei a ignorá-lo, mas queria o quê? Ele só falava mandarim! E eu lá entendo outra coisa que não seja um miado de cobra?
Depois de três horas de intensa briga, o zelador do prédio do carpinteiro que mora ao lado da vila do hamster holandês pediu a tão sonhada trégua. A rainha da coroa de marfim compreendeu, mas disse que só iria assinar o acordo quando eu acordar de um tal sonho. Mas que sonho? Ai de mim se fosse sonhar!

Normalidade ridícula.

Cheguei um dia a pensar que confundir o que é ridículo com o que é normal seria ridículo (ou seria normal?). Não. O mutualismo impera nessas duas palavras sórdidas. Pensei que preconceito fosse ridículo, mas é normal; pensei que pensar que não tem preconceito é normal, mas é ridículo; conheço tanta gente ridícula, mas é normal; queria tanto ser normal, mas que ridículo (e como sou)!
Perguntava-me, ontem, porque adorava conversar com o meu cachorro. Há tempos não sabia a resposta, mas ontem resolvi encontrá-la (fingi surpresa, até). Sei já: animalizo-me com facilidade. A indiferença dos animais é afrodisíaca. Não há sentimentos exagerados, forçados e coerentes com regrinhas sociais. Amam, por amar! Animalizo-me, pelo detestável jeito de ser humano.
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